Mariza e os seus pais – mãe da África Oriental e pai português – trocaram Moçambique por Portugal apenas três anos após a revolução de 1974 que marcou o fim do império colonial português. A família instalou-se na Mouraria, um bairro antigo e insular de Lisboa que deve o seu nome aos mouros que lá viveram. Incentivada por seu pai, a Mariza começou a cantar em público n’O Zalala, um restaurante de propriedade de seus pais. Aí aprendeu cantar o fado ao lado de alguns dos grandes fadistas da década de 1980, como o Fernando Maurício e o Artur Batalha. Ela também suportou as muitas pequenas indignidades de ser uma criança mestiça num país que questionava a sua identidade pós-colonial. Agora, quando ela não está em digressão, tem o hábito de percorrer essas mesmas estradas, aparecendo inesperadamente em algumas das inúmeras pequenas casas de fado que pontilham a paisagem de Lisboa e que dão ao fado a sua energia primordial.
Sua outra vida, aquela que protegeu ao longo de sua carreira, é com sua família extensa: em Moçambique, essa tem origem nos seus quinze tios maternos; em Lisboa, centra-se em sí própria e no seu filho, Martim. A maternidade, e especialmente os desafios provocados pela saúde frágil de seu filho após o nascimento, claramente moldou a sua perspetiva como artista. Como ela declarou recentemente: “Tornei-me uma pessoa diferente. As interpretações são diferentes porque existe o conhecimento de um amor que eu desconhecia.” Não há lugar em que essa diferença é mais evidente do que no seu recente single, “Mae”, cuja letra foi deixada, escrita à mão acima da mesa da cozinha por Martim, com 10 anos, e orgulhosamente registrada em nome dele por sua mãe na Sociedade Portuguesa de Autores. “Mãe” é uma canção de amor de um filho para a sua mãe e vice-versa, sem pretensão e com uma honestidade íntima.
O catálogo de gravações de Mariza é uma viagem constante em prol do fado, bem como tradição e como forma musical. As suas gravações apresentam uma variedade surpreendente de colaborações com artistas de outros gêneros, como o Sting, o Gilberto Gil, o Lenny Kravitz, ou o cantor do flamenco, Miguel Poveda.
Fado Tradicional (2010) inaugurou a sua segunda década como artista com um tour de force de fado puro, ancorado numa série de diálogos musicais improvisados com o guitarrista Ângelo Freire. Lançados com dez anos de diferença, o Fado Tradicional e o Mariza Canta Amália estabelecem novas fronteiras para o fado tradicional: são ambos homenagens ao fado como forma de vida, filtrados pela voz de um talento multifacetado.
No NJPAC, a Mariza será acompanhada por seu colaborador de muitos anos, Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), e também pelos músicos Phelipe Ferreira (guitarra clássica), Adriano Alves (viola baixo), João Frade (acordeão), e João Freitas (bateria e percussão).
Discografia (Álbuns em Estúdio):
2020 Mariza Canta Amália
2018 Mariza
2015 Mundo
2010 Fado Tradicional
2008 Terra
2005 Transparente
2003 Fado Curvo
2002 Fado em Mim |