
Joao Mendes, jornalista por amor as motocicletas
Apesar de ser arquiteto e urbanista pela sua formação acadêmica ele começou cedo a escrever em um jornal, a convite da direção, sobre o que mais gostava, as motocicletas. Outros convites foram surgindo para ter coluna em jornais, ser correspondente de revistas até chegar na televisão. Em 2023 completou 46 anos de jornalismo mas polivalente exerceu outras tantas atividades paralelas e todas com grande sucesso. O nome dele é João Mendes, carioca nascido no Leblon, aventureiro e realizador.
VANESSA FONTANA ENTREVISTA JOÃO MENDES
JOÃO, DE ONDE VEIO ESSA PAIXÃO PELAS MOTOCICLETAS ?
Vem de família. Meu avô andava de moto, meu pai andava de moto e eu escutava histórias muito divertidas. Com esse exemplo em casa não podia dar outra coisa. Desde pequeno sonhava em ter uma moto.

E COMO FOI SUA ENTRADA NO JORNALISMO ?
Com minha primeira moto eu rodava o Rio de janeiro inteiro, tô falando de 1975, e como eram poucas motos na cidade todos mais ou menos se conheciam e eu fazia parte da famosa Turma do Postinho que se reunia todas as noites no Jardim de Alah, em Ipanema. Em 1977 conheci a direção do Jornal de Ipanema, um jornal de bairro distribuído em todas as casas noturnas e restaurantes de Ipanema e Leblon com ótima repercussão. Ele me pediu uma matéria sobre a turma que se reunia no Arpoador. Na verdade era a mesma turma do Postinho que ia ver o por do sol na praia do Arpoador e o resultado foi bem legal. Aí me pediram para escrever uma coluna semanal que foi vista por Hélio Fernandes Filho, que comandava o Jornal Tribuna da Imprensa e tinha estudado durante anos comigo no Colégio São Vicente de Paulo. Ele também me convidou para escrever uma coluna no seu jornal. Depois recebi convite para ser correspondente no Rio de janeiro do Jornal Auto Comunicação de Brasília e da revista Duas Rodas que tinha sede em São Paulo e era a mais importante do setor. Depois não parei mais.

E COMO VOCÊ LEVOU O MOTOCICLISMO PARA A TV ?
Paralela a minha atividade no jornalismo me formei em Arquitetura e Urbanismo mas estava vendo o mercado difícil eu me juntei ao meu pai, o João Mendes original, para montarmos uma produtora de cinema especializada em efeitos especiais. Na verdade o meu pai foi pioneiro em produzir comerciais, em cinema, desde o final da década de 1950. Teve uma produtora sua, depois foi trabalhar em outra e parou dizendo que no meio só tinha maluco. Ele reclamava que sempre queriam trabalhar de madrugada, nos finais de semana, e ele não aguentava mais. Eu propus que montássemos a nossa produtora, ele cuidaria da técnica e me ensinaria e eu cuidaria dos “malucos”. Deu super certo. De 1982 a 1990 mais de 700 produções entre comerciais, curtas e longas metragens passaram pelas nossas mãos. A gente colocava os letreiros da abertura, editava o trailer, fazia efeitos especiais e aquela rotativa final com os nomes de todos os artistas, equipe técnica, etc. Entre os longas eu destaco Pra frente Brasil, Inocência, Bete Balanço, Espelho de Carne, O Rei do Rio, Com Licença Eu Vou a Luta, Um Trem Para as Estrelas, Leila Diniz, Radio Pirata, Jorge, Um Brasileiro, Dedé Mamata, e ainda dois filmes estrelados pela Xuxa e oito estrelados por Renato Aragão e os Trapalhões. Com a produtora bombando resolvi levar o motociclismo para a TV e criei o programa Bike Show que estreou na TV Record em janeiro de 1985. Um programa só para falar do mundo das duas rodas.
E O BIKE SHOW FOI SUCESSO ?
Era o início da produção independente de TV onde um produtor, fora da emissora, fazia um programa para a emissora apenas exibir. Naquela época as empresas de cigarro patrocinavam as grandes competições do motociclismo e acabaram acreditando em mim. Era um programa para o jovem numa época que as TVs não tinha programas para os jovens. Em pouco tempo várias empresas multinacionais estavam participando do programa como Honda, Yamaha, Castrol, Coca-Cola e as marcas de cigarro Hollywood e Malboro. Em quatro anos e meio eu tinha uma produtora com três ilhas de edição, quatro unidades de externa para gravação e já gravava e editava programas de outros produtores. Cresci tanto e fiquei tão ocupado como um profissional de edição e fotografia que aproveitei que o mercado de motos deu uma queda e tirei o Bike Show do ar. Aí já tinham outros 15 programas de assuntos variados usando minha produtora, eu editava clipes de artistas da cena musical, que estava na moda, e gravava eventos diversos de todos os esportes.

NESSA DIVERSIFICAÇÃO O QUE MAIS TE DEU PRAZER DE FAZER ?
Eu gostei muito de editar os clipes da Marina Lima e o programa Especial dela para a Rede Manchete, “Todas, ao Vivo”, com direção da Valéria Burgos. Foi o auge da Marina. Também gravei outros clipes e muitos comerciais para a turma da música, para a turma do teatro, do cinema, da TV e vídeos de diversos esportes. Eu conheci tanta gente que resolvi, da mesma maneira que dei força para o motociclismo, fazer um programa para toda essa turma. Criei o programa Evidência para a TV Bandeirantes do Rio de Janeiro que era exibido às 13h de sexta feira. O programa dava espaço para todas as turmas das artes e dos esportes e tinha uma agenda para o final de semana. O detalhe é que na seleção para escolher a apresentadora, entre 30 meninas, escolhi Adriana Esteves. Ela mesmo, a hoje consagrada atriz. Disse pra ela que pagaria um salário mínimo mas que seria uma vitrine para ela conquistar outros trabalhos. Seis meses depois o Boninho viu ela no ar e levou ela pra Rede Globo e a sequência da história todos já sabem. Uma super atriz que já recebeu muitos prêmios como a melhor do Brasil e já foi indicada duas vezes para o Emmy que é o Oscar da TV.

E VOCÊ DESISTIU DO MOTOCICLISMO NA TV ?
Pouco depois de tirar o Bike Show do ar eu fui convidado para ser o comentarista das provas de motociclismo no SporTV e fiquei lá por uns 8 anos e deixei no meu lugar uma cria minha, Fausto Macieira, que ficou no canal por 20 anos e hoje comenta as provas do mundial de MotoGP na ESPN. E junto dessa participação no SporTV eu criei o Espaço Motor em 1993 para a Rede OM depois CNT. Na verdade eu tinha ido para a Rede OM junto com o Galvão Bueno que foi fazer um programa de esportes no domingo e eu faria a parte do motociclismo. Uns 8 meses depois o Galvão brigou com a turma da Rede OM e me pediram para assumir o horário de domingo e eu criei o programa Espaço Motor que foi ao ar por 10 anos. Só que além do motociclismo coloquei o automobilismo. O programa cresceu e virou a Zona de Aceleração da CNT com duas horas de duração reunindo além do Espaço Motor, o Bike Show e programas pioneiros sobre kart, off-road, e grandes competições. Com esse produto viajava umas 10 vezes por ano para o exterior para cobrir competições importantes e acabei conhecendo 30 países e quase todo Brasil.
A VIDA NÃO FICOU MUITO ACELERADA ?
Demais ! Além desse programa que foi até 2003 a produtora gravou mais de 500 desfiles de moda no Rio de Janeiro e São Paulo. Os Mundiais de Surf na praia da Barra da Tijuca, os Mundiais de Voo Livre em Governador Valadares, os Mundiais de Motociclismo no autódromo de Jacarepaguá, era um evento atrás do outro até 2004, 2005.

E COMO VOCÊ SOBREVIVEU A ESSA PAULEIRA ?
No início dos anos 2000 o mercado foi mudando. As câmeras passaram a ser menores e mais baratas, as ilhas de edição estavam dentro de computadores e muita gente começou a produzir. Surgiram centenas de produtores e olha que ainda não existia o YouTube que foi fundado em 2005.
Me lembro que no início da produtora com os efeitos especiais de cinema só duas outras empresas faziam o que a gente fazia e mais a Rede Globo. Como a Rede Globo só fazia os efeitos para ela o mercado ficava dividido por três, todo mundo ganhava. Quando coloquei os programas na TV o meu maior cliente era eu mesmo e quando o mercado ficou pulverizado demais com os equipamentos mais compactos e baratos, como não gosto de muita concorrência, construí um grande estúdio no Polo Rio de Cine Vídeo. Na verdade o maior estúdio particular do complexo na Barra da Tijuca que possuía outros grandes estúdios que pertenciam a Prefeitura e eram administrados pela associação que ajudei a fundar e fui seu diretor operacional por muitos anos.
“Tive o prazer de acompanhar a carreira e vida do João desde 1999. João é um profissional muito competente, apaixonado pelo que faz e um ser humano incrível. Para mim, é um desses profissionais que merecem nossas reverências do jornalismo brasileiro.” Vanessa Fontana